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A crônica do Corino - Pataxó, a vitíma

30 de novembro de 2006 - 05:05

Pataxó, a vítima



Em 20 de abril de 1997, Dia do Índio, alguns rapazes de "boa família" de Brasília assassinaram o índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos enquanto ele dormia. ("Foi brincadeira", alegaram os assassinos.) Um destaque para a covardia dos assassinos pertencentes a "boas famílias": o índio dormia quando foi queimado.
A “brincadeirinha” de mau gosto dos filhos de papais ricos de Brasília que mataram, no dia 20 de abril de 1997, o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, bem no Dia do Índio, enquanto este dormia num banco de praça, acabou em estranha punição para o cirurgião-dentista Bruno Minervino, filho do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Edmundo Minervino: um cargo público com salário de R$ 6.600,00.
Veja nota que saiu na Imprensa, inclusive no Correio Braziliense, sobre o assunto.

“O filho do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF fez concurso para segurança desse mesmo tribunal. Eram doze as vagas e o filho do juiz-presidente obteve o sexagésimo quinto lugar. As vagas disponíveis foram aumentadas para 70 e o filho do presidente foi nomeado para integrar os quadros de vigilância do TJDF.
Doze dias depois de nomeado segurança, o filho do juiz-presidente foi promovido e nomeado dentista, agora com o salário de R$ 6.600,00. Tudo dentro da lei, é claro.
Os fatos existiram: o assassinato, a tentativa de não punir os assassinos, o nepotismo (apenas um caso a mais). Os assassinos do índio Pataxó são parentes de gente do judiciário em Brasília. O dentista é filho do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal - TJDF.
Houve troca de nomes e de situações o que provocou o surgimento dessa mensagem que circula desde dezembro de 2001.
Tudo é bem explicado no jornal Novo Milênio em ‘Minervino me enerva’. Diz o Novo Milênio: a mãe do índio Galdino é Minervina de Jesus. O ex-segurança e dentista nomeado é Bruno Minervino, filho de Edmundo Minervino, presidente do TJDF. Confusão de nomes e de situações: o nome da mãe do índio assassinado, Minervina, transformou-se em Minervino, sobrenome dos envolvidos em mais este caso de nepotismo.
Verdade: o doutor Bruno Minervino, segurança durante doze dias do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e atualmente dentista desse mesmo tribunal, não teve nenhum envolvimento com o assassinato do índio Galdino.
A repulsa, a indignação do cidadão e do contribuinte é o que existe em comum entre os dois casos - o assassinato e o nepotismo.”
Depois deste texto que vem de Brasília, o que dá para perceber, claramente, é o quanto ainda é arcaico o nosso ordenamento jurídico, o quanto a lei é branda na hora de punir o chamado cidadão acima de qualquer suspeita. E cidadão acima de qualquer suspeita, no Brasil, é aquele que tem generosa conta bancária ou é filho de quem a tem. Mas não é este o País de que precisamos. Não estamos em busca, afinal, de um País que tenha forma de Nação civilizada, em que direitos e deveres sejam devidamente respeitados, em que o Estado de Direito seja o princípio, o meio e o fim das nossas simpáticas convenções sociais?
Este fato aconteceu em 1997 e até hoje não se vê nenhum sinal de inquietação – verbal, é evidente; só falácia e textos redigidos em jornais, sem a devida indignação capaz de contagiar milhões e milhões de brasileiros - diante de toda uma barbárie cometida contra um brasileiro indígena justamente no Dia do Índio.
Perdoem-me o Bruno e o seu papai juiz, mas um fato desta natureza não pode ficar no esquecimento.
Eu juro, amigo leitor: o dia em que eu perder a minha capacidade de me indignar diante disto, paro de escrever, paro de pensar, paro de existir, enfio a cabeça no buraco como uma avestruz e peço demissão da raça brasileira para sempre.
Nós não precisamos de perdão nem de perdoar. Nós precisamos de mais Justiça. A pessoa séria e responsável não precisa de ser tratada com bondade nem com generosidade, mas com a sua cota de Justiça. Nós, afinal, não precisamos de ser bons. Precisamos, isso sim, de ser justos.
E precisamos de leis melhores.
Em tempo: precisamos de brasileiros melhores e, mormente, de um Brasil melhor.
Axé, dona Minervina! Oxalá que a Justiça, nem que seja daqui a um século ou a dez séculos, se apresente e faça valer as sábias palavras da obra machadiniana: “Ao vencedor, as batatas.”

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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