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A crônica do Corino - O vereador de Trambique Armado

Corino Rodrigues Alvarenga - 20 de setembro de 2006 - 07:26

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O vereador de Trambique Armado

Nas eleições de 1988, o meu amigo Denílson Figueira do Amaral Peixoto de Carvalho Dias (ufa!), um advogado recém-formado e morador da cidade de Trambique Armado, localizada a uma distância longínqua destas terras, lançou-se candidato a vereador.
Disse-me ele à época que havia voltado à cidade do Trambique Armado depois de ter trabalhado como bancário por vários anos na capital do Estado, tendo obtido sucesso por lá a ponto de ter conseguido bancar os seus estudos na faculdade de Direito.
Fiz amizade com o advogado, pois, à época, eu fazia amizade com todo tipo de gente, sem fazer questão ou tomar o cuidado de olhar as fichas criminais e folhas corridas de quem quer que fosse. Pelo menos não tenho conhecimento se hoje mantenho amizade com algum trambiqueiro ou corrupto. Se tiver, perdoem-me, homens da lei.
O advogado lançou-se candidato a vereador. Todo mundo fazia campanha e ele, lá, quietinho; todo mundo distribuía santinhos e ele, lá, quietinho; todo mundo colava cartaz e ele, lá, quietinho; todo mundo subia no palanque, fazia discurso, ia de casa em casa e ele, lá, quietinho.
Um dia não agüentei mais ver aquilo e fui falar com o meu amigo. Falei com uma certa dose de pena diante da ingenuidade daquele amigo.
- Denílson, mexa-se, homem de Deus! Olha, Deus me livre e guarde! Você tem que fazer campanha, pois, do contrário, não vai ter nenhum voto, amigo!
- Tenho jeito pra isso, não, Corino...
- Rapaz do céu, você fez santinhos para distribuir?
- Não.
- Fez cartazes?
- Fiz não.
- Tem algum discurso aí escrito? Você é advogado, é fácil pra você escrever alguma coisa. Escreveu?
- Também não.
- E por que você não faz isso, homem?
- Tenho jeito pra isso, não...
E era um tal de não fiz isso, não, tenho jeito pra isso, não...
Fiquei com pena do meu amigo. Mas ele próprio não quis ser ajudado. Tentei de tudo que é jeito. Ligava para ele, mandava discursos lindos. Acho que escrevi uns dez. Sempre começava assim: “Povo do meu querido Trambique Armado...” Lindo, lindo. E ele? Nada. Nunca subiu num palanque, num distribuiu um único santinho, nunca colou um cartaz.
“Esse meu amigo está lascado e não vai ter talvez nem o voto da mulher”, pensei. “Acho que nele irá votar nele mesmo”, cheguei a exagerar em pensamentos.
Resumindo: abriram-se as urnas, fizeram o escrutínio e o que aconteceu?
Não deu outra: ele foi o segundo mais votado com mais de 700 votos. Só não foi o mais votado do que o presidente da Câmara de Vereadores por causa de três míseros votos.
Fiquei estupefato, boquiaberto, mais abobado que o normal, que, por sinal, não é pouco. Não acreditei. Logo após a festa da vitória, fui falar com ele.
- Parabéns, meu amigo! Quase que você foi o mais votado entre as dezenas de candidatos e...
- Pois é, amigo Corino. Não fui o mais votado. Sabe por quê? Num tenho jeito pra isso, não...
Uns dias depois, já em Cassilândia e depois de constatar o quanto eu é que fui ingênuo, recebi a informação que, para mim, soou como uma bomba.

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