Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Terça, 23 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

A crônica do Corino - O que é cultura?

Corino Rodrigues de Alvarenga - 21 de novembro de 2006 - 06:49

Cassilândia News
Cassilândia News

No Brasil, os grandes intelectuais pré-conceituam cultura musical segundo o formato Jô Soares: João Gilberto, Caetano, Tom Jobim, Blues, Jazz, Bossa Nova, Louis Armstrong, Mozart, Beethoven, Sinatra e por aí vai. A lista é vasta e traz outros nomes.
A maioria das pessoas, no entanto, confunde a terminologia cultura. Uma coisa, por exemplo, é cultura enquanto conhecimento; outra é cultura enquanto entretenimento, diversão; e bem diferente é cultura enquanto conjunto de conhecimentos de um povo.
Cultura é uma palavra vasta, ampla, abrangente, que requer maior cuidado na hora de utilizá-la por aí.
Eu, por exemplo, adoro ouvir Chico, Caetano, João Gilberto, Cazuza, Blues, Jazz, Mozart, Beethoven, Bach, Vivaldi, Tchaikovsky, etc, etc, etc e tal, tal coisa, coisa e tal.
Só que compreendo cultura como o conjunto do saber, o conjunto de tudo aquilo que aprendemos na infância ou até mesmo já no ventre da mãe.
Aprendi com o provérbio de que “em Roma, faça como os romanos”, uma vez que, quem vai a um lugar para ensinar, acaba aprendendo com a cultura local. E é lógico que a troca acaba sendo importante; aprendem-se ambos – quem chega e quem sempre esteve ali.
É por isso que defendo a música de raiz, a verdadeira música brasileira – a canção que se ouve nas roças através do rádio praticamente 24 horas por dia.
Quem quer cultura, costumo dizer, pegue um livro e leia. E mais: leia interpretando, buscando a chamada hermenêutica do vernáculo, a semântica, a eloqüência.
Quer se divertir? Quer entretenimento? Ligue o rádio. Ouça a música do seu gosto, respeitando o seu semelhante.
Quer se divertir? Quer entretenimento? Ligue o CD. Ouça Bossa Nova, Valdick Soriano, Mozart, Amado Batista. Ouça o que bem lhe agradar, respeitando o seu semelhante.
Não se busca cultura em música. Música serve para tirar você da sua vidinha dura, cotidiana e transportá-lo, por alguns instante, para um direito sagrado ao relaxamento, que eu chamo sempre de “desligar o automático”.
Eu sou sul-matogrossense caipira e adoro ouvir música cabocla, que fala de porteiras, de croas, de ribanceiras, de restingas, de pindaíbas, de espigões, de boiadas, de boiadeiros, de amores e desilusões, de atos de valentia e de ignorância, de cordéis sem concordância gramatical.
Enfim, eu adoro ouvir a Rádio Patriarca todos os dias. Logo de madrugada, antes do galo cantar. Eu amo ouvir os erres puxados, arrastados dos locutores da emissora e adoro demais da conta ouvir os causos, as histórias e estórias das roças, de um mundo imaginário e longínquo por demais.
Estou na Bahia, a uns dois mil quilômetros de Cassilândia, e me sinto tão próximo da minha terra. Ligo o rádio e sinto Cassilândia de perto, bem aqui ao lado do computador, das minhas bananeiras, dos meus pés de manga, dos meus pés de mamão, de cajus, da maracujina, dos coqueiros e dos jardins.
Cultura é isso. Cultura é amar o que está à sua volta. Cultura é fazer orações a Deus todos os dias agradecendo pelo que a gente tem e – é claro, amigo – não deixar que só Deus proverá, mas lutar, trabalhar duro, ler bons livros, fazer bons amigos; enfim ser você depois da sapiência do Criador, afinal, como dizem os baianos, Deus é mais. Cultura é viver. Cultura é amar a vida.
Se estou errado, peço perdão. E de joelhos.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

SIGA-NOS NO Google News