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A crônica do Corino - O dinheiro da feira

Corino Rodrigues Alvarenga - 28 de setembro de 2006 - 07:05

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O dinheiro da feira

Feliz é o sujeito que, toda semana, tem que lutar pelo dinheiro da feira.
Toda sexta-feira é a mesma coisa. É a felicidade que se renova. E felicidade depende, primeiramente, do dinheiro da feira.
E a minha feira é modesta. Frutas, legumes, carne-com-osso para apimentar o feijão. Ah!... já me deu água na boca!
O dia que você não tiver mais que lutar pelo dinheiro da feira, perdão, você já está morto. Está morto e não sabe.
Ali está a realização plena da vida. É você se sentir vivo, firme como uma rocha, edificando pequenas coisas no dia-a-dia. O dinheiro da feira é tão pouco, mas é o elixir que te levanta, que te faz grande, importante.
Você pode bater no peito e dizer:
- Hoje, mais uma vez, consegui o sagrado dinheiro da feira. Hoje toda a minha prole irá comer. E nós, mais uma vez, teremos o que agradecer ao Criador.
Eu criei uma frase que é só minha: “O homem morre quando chupa a sua última laranja.”
Eu sempre acreditei nisso. Parece bobagem, mas acredito que não é. Chupar uma laranja, tirar a casca lentamente com um canivete – como fazia o meu pai -, delineando com esmero toda a borda da laranja, ora lento, ora mais rápido, é o mais sublime e forte sinal da presença de Deus.
E a mais mórbida, mas realista, impressão que tenho da vida é esta: “O homem morre quando apaga a última lâmpada.” Eu, pelo que eu saiba, ainda não apaguei a minha última lâmpada.
Se não tiver lâmpada por aí, lampião ou lamparina também serve. O que importa é a filosofia e não o instrumento, entendeu agora?
Como sempre sou relapso escrevendo, eu pergunto: o que laranja e lâmpada têm a ver com o dinheiro da feira? Nada talvez. Mas foi força de expressão para reforçar o meu raciocínio que, quase sempre, se perde por aí e vai, voando longe, alto...
Eu confesso que nunca gostei do florentino Maquiavel. O poder tem, para mim, poder relativo. E não vale a pena fazer nada, absolutamente nada de imoral ou ilegal, para ter o poder. Aliás, nem o moral e o ético, para chegar ao poder, tem qualquer valor para mim.
Não sou homem do poder. Vivo longe do poder. E vivo feliz. Então o meu poder é outro: ele está na felicidade de conseguir, toda sexta-feira, o sagrado dinheiro da feira.
Por falar nisso, preciso de parar de escrever esta crônica, para...
Estou sem nenhum no bolso e a mulher já começou a resmungar. Quer saber de uma?
Tenho que ir agora. Tchau, prezado leitor. Fui.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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