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A crônica do Corino - João Hélio

Corino Rodrigues de Alvarenga - 12 de fevereiro de 2007 - 07:04

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O crime hediondo praticado por cinco marginais contra o garotinho João Hélio Fernandes Vieites, de seis anos, arrastado por sete quilômetros por vários bairros cariocas, na semana passada, não é caso único de extrema violência e encontra paralelo em Jacobina com um caso que criou igual comoção por aqui: a morte do balconista Diego, assassinado brutalmente na madrugada do dia primeiro de janeiro passado quando o natural é o sentimento de paz que marca todo e qualquer revellion.
A ligação que há entre os dois casos é o da comoção pelo incomum das duas situações: não chega a ser rotina bandidos saírem por aí arrastando uma pobre criança por vários quilômetros, deixando o seu corpo totalmente dilacerado, assim como não é comum, em pleno revellion, quando as pessoas estão estourando champagne para dar boas-vindas ao ano novo, alguém ser morto por causa de um mísero telefone celular.
Eu gostaria muito de acreditar que a comoção nacional que se verifica em função da morte do menino João Hélio seja o início de uma luta da sociedade organizada por mudanças no Código Penal Brasileiro, um ordenamento jurídico que beneficia apenas os advogados portas de cadeia e as autoridades policiais corruptas que vivem de vender a soltura dos mais diferentes criminosos e picaretas.
Eu gostaria muito de acreditar nisso.
Mas como acreditar se o brasileiro tem memória curta e vai esquecer de cobrar isso depois e se não interessa aos parlamentares insensíveis do nosso pouco querido Congresso Nacional fazer qualquer alteração na legislação vigente?
É um círculo vicioso que vem de há séculos. Cinco séculos, para ser mais preciso.
Os problemas sociais brasileiros começam no lar, em que as famílias, em sua grande parte, são desestruturadas; passam pela escola, em que não há investimentos consistentes no ser humano e nos valores morais e éticos; e terminam nos presídios, onde o sistema correcional dá lugar à escola do crime.
Os assassinos do menino João Hélio praticaram esse crime hediondo porque apostam, e apostam alto, na impunidade, porque sabem que, neste País, ladrão que tem bom advogado não vai para a cadeia, que os políticos saqueiam o dinheiro do contribuinte e nada acontece, porque sabem que a própria sociedade só se comove na hora do holocausto e que irá absolvê-los depois, assim como absolve os corruptos, com folha corrida e com condenações claras e irrefutáveis, ao votar neles de novo, assinando uma procuração em branco.
Há vários anos um menino de oito anos, o Yves Ota, foi assassinado brutalmente, em São Paulo, por um policial militar, houve comoção igual, os seus pais criaram uma associação para exigir mudanças na legislação, etc, etc, etc... e os políticos o que fizeram? Não fizeram nada. Nada mudou. Tudo continua como sempre esteve.
Este é um País onde, infelizmente, predomina o crime e não a punição, predomina o criminoso e não a vítima, predomina o ridículo e não o bom-senso, predomina a desfaçatez e não a seriedade.
Daqui a alguns dias não se ouvirá falar mais tanto da morte do pequeno João Hélio. Daqui a alguns meses não se ouvirá mais ninguém demonstrar sua indignação diante daquela cena dantesca em que o seu pequeno corpo foi dilacerado pelo asfalto das ruas dos bairros cariocas.
Daqui a algum tempo, não se sabe qual, os criminosos estarão certamente nas ruas cometendo outros delitos, e nós, como verdadeiros imbecis, estaremos aqui, na rotina, tocando a nossa vidinha, taciturnos e imóveis, diante da preguiça, da má intenção, da conivência e da irresponsabilidade de boa parte das autoridades deste País.
A comoção, a dor e o sentimento de abandono só estarão presentes na vida, por todo o sempre, dos pais e da irmã do menino João Hélio.
Nós, no fundo, não estamos nem aí.
Só a família da vítima é que carrega esse fardo.
Este é um legado que o Estado brasileiro lhes oferece ao negligenciar também numa área vital que é a segurança dos cidadãos.
E cada um de nós, na condição de brasileiro, tem culpa no cartório.
Outros crimes hediondos estão ocorrendo neste momento – sem tanta divulgação pela mídia, é verdade – e nós ficamos aqui, com cara de imbecis, dizendo apenas:
- Puxa vida! Caraca! Isso voltou a acontecer? Nossa Senhora, por quê?!
A nossa indignação precisa ser transformada em atitude para que possamos exigir dos políticos nos quais votamos o cumprimento de um mandato que venha a honrar o salário que recebem religiosamente – e isso se estende também a todas as autoridades constituídas que oferecem um padrão de serviço bem abaixo do ideal.
Indignação sem atitude não passa de hipocrisia.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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