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A crônica do Corino - Javé e Aporé

Corino Rodrigues Alvarenga - 27 de setembro de 2006 - 07:39

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Javé e Aporé

Eu tive a oportunidade assistir a um bom filme nacional: Narradores de Javé, cujo enredo é comum e já aconteceu em tantas localidades brasileiras onde se tem um salto tão lindo quanto o do Aporé, localizado em minha terra natal, Cassilândia, município localizado a 410 quillômetros de Campo Grande
O enredo é mais ou menos assim: após saberem que a cidade onde vivem será inundada para a construção de uma usina hidrelétrica, os moradores decidem preparar um documento que conte todos os fatos históricos do local, como tentativa desesperada de salvar a cidade da destruição.
Dirigido por Eliane Caffé (Kenoma) e com José Dumont, Matheus Nachtergaele, Nélson Dantas, Gero Camilo e Nélson Xavier no elenco. O enredo é de Eliane Caffé e Luiz Alberto de Abreu. O filme foi lançado em 2003 pela Bananeira Filmes. Um excelente filme nacional.
Até os nomes são parecidos. No filme, Antônio Biá, personagem vivido por José Dumont, conclui:
- Javé é um lugar bom é para criar lobisomem!
Já o nosso Aporé, com o perdão do bairrismo, não. É um vale paradisíaco, lindo, único, mas que corre o risco, não de ser inundado, mas de ter bloqueado o acesso de turistas a certas áreas de seu belo vale, uma vez que querem reativar a antiga usina geradora de energia elétrica.
Eu não tenho nada contra o progresso e nada contra esses empreendedores, mas acho que tinha que ser buscada uma outra solução e não o comprometimento do Vale do Aporé para feito turístico, sobretudo porque é o ponto de referência de Cassilândia. E, há mais de vinte anos, virou até slogan da nossa querida Patriarca, a rádio do Vale do Aporé.
Se os empreendedores que querem reativar a antiga usina proibirem o acesso dos turistas a esse lindo cartão postal cassilandense, será a mesma coisa que varrer ou riscar Cassilândia do mapa turístico sul-mato-grossense, é o mesmo que tirar o macaco do filme King Kong – não ficará nada, não restará nada, não haverá nada para se contar depois.
Lembro-me criança pescando no rio Aporé, ali perto do salto. Já vi peixe tirado daquelas águas do tamanho de uma pessoa e, inclusive, isso não é mentira nem invencionice de pescador, mesmo porque nem foi eu quem pescou esse tal peixe gigantesco – há até fotos em álbum de família com essa foto para dar veracidade ao que ora estou contando.
Havia muitos dourados, tucunarés, piaus, traíras, bagres em dias de chuva, lambaris, muitos lambaris. Acabaram com os peixes. Famílias e famílias à época, isso até os anos 70, viveram da pesca.
Vendo aquela pescaria toda, em que até a piracema não era levada em conta, acredito que Deus se encheu e não quis fazer o milagre da multiplicação dos peixes.
Ao contrário, para castigar Cassilândia, talvez esteja agora inspirando esses empreendedores a retomar ali as atividades da antiga usina hidrelétrica.
O Vale do Aporé, senhores engenheiros e técnicos da grande obra, é a alma de Cassilândia, é a entranha da terra de Cassinha.
Façam, por obséquio, que a obra se reerga e vá avante, mas sem proibir dos turistas, uma vez que o Santo do Aporé é um dos mais lindos cartões-postais deste País.
Porque, prezados engenheiros e técnicos da retomada da usina – e sobretudo o político que teve essa “brilhante idéia”! -, se Cassilândia perder o salto do Aporé para efeito turístico, ficará como Javé de Antônio Biá: um lugar bom é pra criar lobisomem.
Como poetas só fazem sonhar com natureza e lindas musas, que tal, trovadores e proseadores cassilandenses, começar a criar alguns versinhos para homenagear o Salto Aporé – pelo menos enquanto ele está lá, livre e intocável?
Eu vou, para incentivar essa prática poética, vou lançar agora estes pequenos versos:

Aporé, meu Aporé...
Que triste sina, que triste sina!
Tu que molhaste os meus pés
Voltarás a ser engenhoca de usina!

Aporé, meu Aporé...
Ás turbinas serás ligado
O brilho de tua luz, para dar energia,
Pasme!, será apagado!

Perdão, amigo leitor. Eu não estou muito inspirado hoje. Também pudera! Quem é que vai se inspirar com um tema desse? Tenha dó!

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista
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