É a repórter loira da TV, já com o microfone quase batendo na cara do líder dos grevistas:
- O senhor confirma que a categoria dos fabricantes de rapadura e melado entra em greve hoje?
- Eu não falo, não.
- Mas o senhor é o líder dos fabricantes de rapadura e melado. É quem responde pela categoria. Vocês estão em greve?
- Não posso falar porque eu estou em greve. E quem está em greve não trabalha e não fala.
- Essa francamente... Então o senhor fez também uma greve, digamos, verbal?
- Sem comentários.
- Mas o senhor já está falando, ora bolas!
- Só que não estou falando o que você quer ouvir.
- Mas, até para se entrar em greve, alguém tem que falar.
- A mocinha já entrou em greve?
- Não. Nunca!
- Então como pode falar de uma coisa que não tem conhecimento de causa?
- Espera aí... Quem pergunta aqui sou.
- Você pergunta, é verdade. E eu não respondo, também é verdade.
- Mas você está falando. Não está em greve?
- Eu não estou falando. Estou dizendo e...
- Mas tudo não dá na mesma? Dizer, falar?
- Não, claro que não!
- Mas, voltando ao tema da reportagem, os fabricantes de rapadura e melado estão ou não em greve?
- Já disse: não falo sobre esse assunto. Estou em greve e não falo sobre greve.
- Um fabricante de rapadura e melado ganha bem?
- Se ganhasse bem, não estaria em greve...
- Ah!, te peguei agora! Então você acaba de confirmar que a categoria já entrou em greve.
- Não disse isso, moça.
- Disse sim. Quer que eu volte a fita?
- Disse, mas com outro sentido. A categoria pode entrar em greve. Pode. Entendeu?
- É o seguinte: eu tenho que trabalhar. Me ajuda aí, vai.
- Quer trabalhar? Ora, bolas! E o que eu tenho a ver com isso? Só porque estamos fazendo uma pequena greve... ops!
- Acabou de confirmar que já tinha afirmado. Estão em greve, sim!
E voltando-se para o telescpectador, a repórter disse, em boa dicção:
- Como vocês puderam ouvir da própria boca do presidente do Sindicato dos Fabricantes de Rapadura e Melado do Estado, a categoria já está em greve. É isso, presidente, não é?
- Vou dizer mais uma vez: eu estou em greve e, portanto, não falo sobre greve.
- A greve vai até que dia?
- Que greve?
- Ora, a greve dos fabricantes de rapadura e melado!
- É você quem está dizendo. Eu não disse nada.
- Assim não dá. Fala sério, vai.
- Fala sério é coisa dos Casseta. Aliás, é um programa bom para quem está em greve.
- Tá vendo, tá vendo? Quais os motivos que levaram os fabricantes de rapadura e melado a entrar em greve?
- E quem falou em greve aqui?
- Você.
- Eu? Você deve estar louca.
- Quer saber de uma, presidente? Vai te catar!
- Não vou, não.
- Então vai te ferrar!
- Aí tudo bem. Ferrados nós já estamos mesmo! Agora você acertou na mosca, moça.
E a entrevista prosseguiu. Tudo ia bem até que até que ela pegou pesado nas perguntas:
- E por que vocês não vão trabalhar? Vocês não acham que esse negócio de greve é coisa de vagabundo?
É necessário dizer qual foi a resposta? Eu deixo por conta da sua fértil imaginação...

Corino Rodrigues de Alvarenga
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