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A crônica do Corino - "Estauta de tauba"

Corino Rodrigues de Alvarenga - 20 de novembro de 2006 - 06:57

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A inocente e pequena Sara, uma menininha morena de oito anos, assistindo ontem à novela das sete da Globo, como todo brasileiro faz todas as noites, saiu com esta:
- Olha, ele ficou duro igual uma “estauta”.
Todos acharam graça. E como nesta vida nós cometemos enganos! A vida, por sinal, é feita de enganos e desenganos, amores e desamores.
O termo “estauta”, pertinente à estátua, é óbvio, fez-me lembrar um outro engano que muita gente comete ao dizer que uma pessoa é parecida demais com outra.
- Fulano saiu cagado e cuspido.
O termo, pelo que eu saiba, significa algo totalmente diferente, embora com sentido parecido, como, por exemplo, desta forma:
- O filho saiu ao pai esculpido em carrara.
Uma pessoa esculpida em carrara a outra sugere uma semelhança que beirasse a perfeição como a obra de Michelangelo.
Mas o que há de “estautas de taubas” por aí, cometidas, inclusive, por adultos, não é brincadeira. E ditos por “cagados e cuspidos”, porque assim somos nós no dia-a-dia, cometendo enganos e desenganos após enganos e desenganos.
Os maiores enganos desta vida são cometidos justamente pelas cabeças mais privilegiadas deste País.
Os diplomados, que fizeram ou estão fazendo mestrado e doutorado, com direito a passagem até por consagradas universidades dos Estados Unidos e da França, são responsáveis por enganos e desenganos que levaram o País aonde se encontra hoje.
Eu acompanho sempre as sessões do parlamento brasileiro pelas TVs Senado e Câmara e vejo o quanto os nossos deputados e senadores falam bonito, com lindas verborréias, com palavrórios bem lapidados, com discursos pertinentes e beirando a perfeição, com eloqüência próprias de grandes estadistas – nem todos, é verdade -, mas aí você começa a listar o currículo deles, o que fizeram enquanto governadores, o que fizeram enquanto prefeitos, o que fizeram enquanto gestores públicos nos seus Estados e nas suas cidades, e aí, boquiaberto, você percebe que a maioria está lá construindo belas “estautas de taubas”, todos “cagados e cuspidos”.
Tudo isso nos leva à dura e real conclusão: quem está construindo essas “estautas de taubas” e “cagados e cuspidos” somos nós.
Não adianta enganar e ficar se enganando: nós, juntos, somos os responsáveis pelos escultores políticos que estão dando forma ao Brasil.
Nós não tivemos um Michelangelo, mas tivemos um gênio igualmente talentoso: Aleijadinho. Michelangelo era bom em carrara e Aleijadinho não ficava devendo nada em pedra-sabão.
Enquanto isso, nós, também escultores, estamos aqui, no dia-a-dia, esculpindo “estautas de tauba”, porque à semelhança de nossos políticos – quando eles, a bem da verdade, saem do seio do povo -, nós somos igualmente “cagados e cuspidos”.
Ou, na melhor das hipóteses, fomos e somos em carrara esculpidos. Tudo depende da escolha do freguês – até porque cada caso é um caso.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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