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A crônica do Corino - Discursos

Corino Rodrigues Alvarenga - 01 de novembro de 2006 - 06:04

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Discursos

Certa vez alguém disse que todo discurso de posse do prefeito, do governador ou do presidente da República deveria ser feito um ano depois. Eu concordo em gênero, número e grau com esta frase. Já imaginou se ele fosse fazer aquelas mesmas promessas um ano depois?
- Eu prometo construir em seis meses o Hospital Regional de Cassilândia e...
- Mentira, doutor! – gritariam os moradores já cansados de ouvir a mesma promessa.
- Mas eu prometo construir uma ponte que irá ligar a nossa cidade ao vizinho Estado de Goiás e...
- Está louco, doutor? – interrompe alguém da platéia. - A ponte já existe. E é boa demais da conta.
- Então eu vou construir outra, mais nova, mais bela, mais robusta, mais...
- Vai te catar, doutor! – grita um skatista. – Tô comendo isso... Tô comendo...
Dizem que uma vez, no Chapadão do Sul, um deputado paraquedista, desses candidatos copas do mundo que aparecem de quatro em quatro anos doidos para levantar a taça e ir para a galera, estava discursando. Lá pelo meio do cansativo discurso, teria dito:
- Povo do Chapadão do Céu...
- Doutor, aqui não é Chapadão do Céu, não; Chapadão do Céu fica lá em Goiás, e, pelo que a gente saiba, estamos em Mato Grosso do Sul. Aqui é o Chapadão do Sul, com muito orgulho. Chapadão do Sul, ouviu, doutor?
- Sim, sim. Eu confundi. É que eu tenho fazenda de soja aqui e tenho lá, então confundi, porque está tudo verde, tudo cheio de soja. Perdão, perdão. Como ia dizendo... vou construir aqui no Chapadão do Sul uma enorme ponte para melhorar o tráfego de veículos no acesso à sede do município e...
- Doutor, desculpa de novo, mas não há rio nem córrego aqui perto da sede. Então fica difícil construir a ponte...
- Não importa. Se aqui não tem rio e não tem córrego, assim mesmo eu faço a ponte e pronto!
- Mas como, doutor, se não tem córrego e nem rio? – era um agricultor de ouvido colado na demagogia toda do político.
- O nosso governo é porreta, gauchada! Eu vou construir o rio e vou construir o córrego!
É claro que ninguém bateu palmas. O deputado saiu de lá, segundo diz o povo, sob vaias.
Todo discurso deveria ser feito um ano depois da posse. E o presidente Fernandinho, que, antes mesmo de tomar posse, havia prometido nunca mexer na poupança nem no over night?
- A poupança está segura. Ninguém irá mexer na poupança, minha gente...
- Só se for a poupança do senhor, presidente! - exclama a platéia toda que teve o seu dinheiro bloqueado, num cerceamento criminoso e inconstitucional - Pode ser que ninguém mexe na poupança do querido presidente, digo, na região glútea, nas nádegas, na bunda presidencial... a não ser a primeira-dama na hora do bem-bom, na cama, entre quatro paredes... talvez, talvez.
Dizem que os discursos de Collor eram escritos por Sebastião Nery, jornalista, ex-deputado carioca e autor do livro Folclore Político, e pela brilhante jornalista Beliza Ribeiro.
Eram discursos lindos, atualizadíssimos, globalizados e, sobretudo, ilusórios e falsos pra chuchu. Fernandinho levou todo mundo na conversa. Agora, imagine você, se fosse feitos um ano depois da posse... ai, ai. Quem iria acreditar naquilo tudo?
E se o presidente-tampão Itamar, da dupla Itamar & Itapior, dissesse em seu discurso de posse?
- Povo brasileiro, vou trazer o fusca de novo. Vai todo mundo andar de fusca a partir de agora...
- O senhor ficou maluco, doutor Itamar? – berra um bebum depois de tomar umas oito cangibrinas. – Já não chega os Ladas do Collor, homem de Deus? Tudo, tudo o povo agüenta, doutor Itamar! Menos o fusca. Fusca, não, doutor!
Como o assunto é palpitante, vou terminar este conto com um belo discurso, para fechar com chave de ouro:
- Querido e nobre leitor, é com a voz embargada e tomado de emoção, que prometo escrever bem todos os dias, nunca cometer erros gramaticais nestas crônicas e, sobretudo, amado leitor, eu prometo não encher o seu saco com assuntos chatos... bem....
Pensando melhor, não seria melhor fazer esse discurso um ano depois?

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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