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A crônica do Corino - Destino infalível

Corino Rodrigues de Alvarenga - 29 de janeiro de 2007 - 07:11

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Uma notícia publicada no site www.cassilandia.com.br, nesse domingo, mostra três personagens envolvidos numa tragédia e uma autoridade policial matogrossense envolvida com a mais pura filosofia. A notícia em si já merece registro. E a antinotícia, aquilo que está por trás dela, também. O que está implícito precisa ficar mais claro. Leia a notícia para saber do que se trata e depois eu volto para mandar brasa.

“Vaqueiro, novilha e cavalo morrem afogados em lagoa

Domingo, 28 de janeiro de 2007 11:58
24HorasNews/José Ribamar Trindade

O destino de um homem. O vaqueiro José Antonio da Silva, de 51 anos, voltou para salvar uma bezerra que estava se perdendo da boiada e acabou morrendo afogado. Morreu o vaqueiro, o animal que ele salvou e o cavalo que ele montava. Os três caíram dentro de uma lagoa no meio de uma fazenda, ontem.
A fazenda que o vaqueiro José trabalhava e onde aconteceu a tragédia, fica localizada na BR-364, na altura do Posto Chapadão, na Serra de São Vicente (Baixada Cuiabana, a 80 km da Capital).
Testemunhas contaram a investigadores da Delegacia de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP) que foram ao local fazer a liberação do cadáver, que o vaqueiro estava “tocando” uma boiada, quando uma das bezerras se afastou e se perdeu.
Ao voltar e pegar a novilha no colo em cima do cavalo, o animal se espantou e começou a correr. Como o vaqueiro estava com uma das mãos ocupadas segurando a be4zerra, o cavalo se descontrolou e foi em direção a uma lagoa de mais de três metros de profundidade. Os três morreram no local.
Os corpos do vaqueiro e dois animais foram resgatados com a ajuda de uma equipe do Corpo de Bombeiros. Apesar da evidência do acidente, a Polícia abriu inquérito e a DHPP já iniciou as investigações. “É o destino do homem, infalível, que ninguém pode mudar”, comentou um investigador da DHPP.”

A definição do investigador da DHPP fez-me lembrar de um velho cearense, seu Raimundinho, que, presente a um velório de importante autoridade da Zona Leste de São Paulo, lá no movimentado bairro de São Mateus, disse cumprimentando a recém-viúva:
- Olha, minha filha, isto é coisa da vida/Quando tem que acontecer/Tem uns que nascem morto/Outros vivem pra morrer/Uns nascem pra ser feliz/Outros nascem pra sofrer/Isto é coisa da vida/Quando tem que acontecer.
A trova do repentista não secou as lágrimas da mulher, mas impregnou na minha memória.
Somente uma boa filosofia, se possível com uma pitada de bom-humor, pode definir – ou contornar – certas tragédias.
O que poderia dizer um investigador de polícia diante da morte de um vaqueiro, uma novilha e um cavalo numa lagoa com três metros de profundidade? Nunca vi, confesso, um vaqueiro, um boiadeiro ou um homem da lida que não saiba nadar.
Todos que conheço atravessam nadando, tranqüilamente, rios como o São Francisco, o Araguaia, o Taquari e o Rio Negro.
As mortes, então, do cavalo e da novilha soam ainda mais estranhas. Seria um suicídio coletivo? Não, creio que não. Homens e animais não fazem pacto. O único acordo que há entre um homem, um cavalo e uma novilha é o da tendência natural da vida: montar no primeiro até este ficar velho e comer a carne da segunda quando esta virar bife.
Por isso, acredito que a frase do investigador-filósofo de polícia veio em boa hora: “É o destino do homem, infalível, que ninguém pode mudar...”
E aí o seu Raimundinho cearense completaria certamente: “Isto é coisa da vida/Quando tem que acontecer...”
A morte é um bom tema para os filósofos, trovadores e cronistas. A morte só não é um bom tema para quem morre. Nem para a viúva. Nem para os herdeiros do seu legado.
A morte é igual antena parabólica: pega em qualquer lugar. E tem um relógio dos diabos: não falha nunca.
A morte é o chato cobrador do caixeiro-viajante: aparece na tua porta para receber o que lhe é devido. E só sai de lá após o serviço feito. A morte, enfim, meu amigo... é de matar.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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