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A crônica do Corino - Crônica e notícia
Crônica e notícia
Eu escrevo crônicas há 22 anos e a primeira a ser publicada foi Cada marido, no Cassilândia Jornal, no ano de 1984. A crônica é uma forma de você escrever, de forma livre, jovial e bem-humorada, a chamada antinotícia, isto é, o fato corriqueiro ou não que acabou passando despercebido.
Na definição do brilhante Fernando Sabino, a mistura entre jornalismo e literatura leva o cronista a um freqüente impasse: para se constituir como texto artístico, o seu comentário sobre o cotidiano precisa apresentar uma linguagem que transcenda a da mera informação. Ou seja, precisa de uma linguagem menos denotativa e mais pessoal. Isso não significa elaboração muito sofisticada ou pretensiosa. Significa que o estilo deve dar a impressão de naturalidade e a língua escrita aproximar-se da fala.
Em outras palavras, crônica funciona como uma possibilidade de o escritor oferecer ao leitor, sobretudo dos jornais e revistas, uma xícara de literatura no café da manhã, um pequeno tira-gosto na hora do almoço e um passatempo a qualquer hora.
Já a notícia propriamente dita tem outra característica: a informação. E começa pelo lead, em que o jornalista, em pouco espaço e já no primeiro parágrafo, tem que responder às seis perguntas-base do Jornalismo: o quê, quem, onde, quando, como e por quê.
Segundo Pedro Celso Campos, a notícia usada como informação, no jornalismo, tem duas partes muito claras: Entrada e Corpo. A entrada, ou lead, informa resumidamente o que aconteceu, com técnicas que visam prender a atenção do leitor para conduzi-lo ao corpo da matéria, onde o fato será explicado com mais detalhes e contextualização.
Na pressa do fechamento ou para simplificar o trabalho mesmo, a maioria dos jornalistas começam a matéria na ordem direta (O Presidente da República disse ontem, em Belo Horizonte, que o Governador Itamar Franco está blefando. O motivo do comentário foi a anunciada intenção do governador mineiro de mandar a Polícia Militar Mineira ocupar a Usina de Furnas se o Governo Federal insistir na idéia de privatizar a empresa).
E Pedro Celso Campos conclui: Com um pouco mais de tempo e criatividade, o repórter pode abrir a matéria de forma menos simplista, talvez com uma declaração interessante do Presidente (Se ele ocupar nós vamos desocupar, disse ontem o presidente, em Belo Horizonte, referindo-se...), com algum dado que reflita a briga dos dois (Preocupado com a ameaça do governador Itamar Franco de ocupar a estatal Centrais Elétricas de Furnas se a empresa for privatizada, o Presidente da República disse ontem em Belo Horizonte...), ou com outra forma indireta (Se depender do Presidente da República, o governador Itamar Franco já pode mandar a PM mineira ocupar Furnas porque o processo de privatização das estatais não vai parar. Foi o que deixou claro, ontem, em Belo Horizonte, o presidente FHC ao comentar...)
Sob a ótica de que estou escrevendo para agradar e cativar leitores, penso que o cronista tem que contar primeiro com a piedade do leitor. Alguém que se debruça no computador ou na máquina de escrever e se dedica a escrever a esmo, só pode ser mesmo uma pessoa digna de pena.
De elogios, não. Não são raros, é verdade. Mas quase sempre vem sem o peso da devida análise uns ocorrem só para agradar, por pura gentileza. As críticas, por mais duras que sejam, são fundamentais. Eu digo mais: as críticas são o grande alicerce para a obra que o cronista empreende através das palavras. As palavras são os tijolos e as telhas deste pedreiro.
Aliás, aprende-se um pouco a cada dia e o cronista, crítico, sempre pensa que nada sabe. Se Sócrates já o dizia, imagine eu então.
A minha diferença do pedreiro que empreende a sua obra é evidente: o mau pedreiro é chamado de meia-colher. O mau cronista pode ser tachado de meia-boca.
Mas cá estou eu: escrevendo, erguendo tijolos, escolhendo palavras, assentando telhas. Na base do meia-colher. Na base do meia-boca. Mas escrevendo, escrevendo, escrevendo...
Corino Rodrigues de Alvarenga
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