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A crônica do Corino - Cornélio e Dadinha

Corino Rodrigues Alvararenga - 21 de setembro de 2006 - 07:21

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Cornélio e Dadinha

Cornélio era um rapaz gordo, meio sem jeito com aquele bigodinho loiro. Usava umas camisas largas, tamanho GG, calças jeans à Jô Soares. Era o que se poderia chamar de rapaz avantajado. Ele era funcionário da imobiliária do pai, seu Juvenal.
Dadinha era uma moça à frente de sua época, uma espécie de Ângela Diniz, embora não pertencesse à nobreza carioca. Morava ali no bairro do Leme e sua casa ficava bem em frente à de Cornélio. Dadinha vivia quase sempre seminua e gostava de mostrar suas ancas robustas, a cinturinha de violão, os seios fartos. Era uma mulher bem equipada pela natureza, bem assistida por Deus e bem aconselhada pelo Diabo. Tinha o cheio do pecado, o sabor da pimenta, o cheiro de pólvora.
Não deu outra. Cornélio se apaixonou por Dadinha literalmente. E Dadinha se amarrou em Cornélio financeiramente. Moça pobre, achava uma maravilha passear pela cidade maravilhosa naquele Maverick vermelho, cor da paixão e motor V8.
Do namoro ao noivado, foi um pulo. E daí para o casamento, outro. Como o pai dele estava com câncer e necessitava de atenção médica contínua, Cornélio assumiu o comando da imobiliária. Era um gordo jeitoso para os negócios e estava indo bem. E foi progredindo no segmento imobiliário da mais linda cidade brasileira. Tudo ia bem.
Exceto no casamento. Dadinha só queria saber de fazer traquinagens. Quando Cornélio chegava em casa, suado e exausto, ela já ia fazendo biquinho:
- Amoreco, eu quero um colar de esmeraldas.
- Você sabe quanto custa um colar de esmeraldas, Dadinha?
- O que eu quero custa apenas 25 mil, amoreco.
- E você diz apenas? Isso dá para comprar a metade de um apartamento na Tijuca, Dadinha. Ontem mesmo eu vendi um apartamento lá, na região central, por 50 mil.
- Mas eu quero, vai... Olha, Dadinha já está ficando tristinha... Tá de mal agora...
- Está bem, Dadinha! Vou comprar o colar de esmeraldas.
No sábado seguinte, o colar de esmeraldas, verde e reluzente, todo trabalhado em ouro e platina, estava no pescoço de Dadinha.
E naquele mesmo dia Cornélio ficou com um pé atrás ao ver sair da mansão o entregador de pizza por volta das 24h. Foi à cozinha e não viu nenhum sinal de pizza, no lixo não havia sinal de embalagem de pizza e não sentiu em lugar nenhum qualquer cheiro que parecesse cheiro de pizza. Sentiu apenas cheiro de chifre. Apaixonado, ficou calado. Ele era um excelente comunicador quando o assunto era negociar imóveis. Mas havia um tema que o deixava sempre calado, imóvel: Dadinha. E o pior: ela sabia disso. Sabia e tirava proveito da situação.
E assim o casamento foi seguindo o seu curso. Não tiveram filhos porque Dadinha dizia que o único prazer em ter filhos estava na tarefa de fazê-los.
- Vamos só fazer amor. Fazer filhos dá um trabalho danado. Aliás, fazer é fácil. O difícil é criá-los, amoreco.
No fundo, Dadinha tinha os seus “filhinhos” para oferecer atenção quase integral: o padeiro, o açougueiro, o rapaz da entrega do supermercado da esquina, o limpador de piscina, o mecânico, o eletricista, o filho da empregada.
Um dia, porém, quase tudo teve fim. E o casamento de Cornélio e Dadinha foi parar nas manchetes policiais.
Cornélio, naquela quarta-feira de calor carioca insuportável, pegou Dadinha na cama com o anão do circo. Não teve dúvidas. Sacou o revólver 38 e disparou três vezes contra o anão do circo, que tombou. Morte instantânea. A pontaria de Cornélio estava em dia. Ele sempre treinava nas pedras em Búzios.
Dadinha ficou sem entender nada.
- Amoreco, você ficou louco? Por que matou o anão do circo?
- Dadinha, eu sou corno desde que casamos. Sempre soube de suas escapadas e sempre fingi que não via.
- Então, amoreco... Eu sempre traí você mesmo. Por que matar justamente o anão do circo?
- Eu aceito tudo. Engoli tudo: padeiro, açougueiro, dentista, ginecologista, entregador de pizza. Agora, Dadinha, anão de circo... aí não!
No dia seguinte o jornal carioca mais sensacionalista do País publicava a manchete: “Tragédia no Leme: Anão do Circo Espacial leva três tiros do marido chifrudo”.
Cornélio contratou um bom advogado criminalista e conseguiu provar defesa da honra, pois havia imagens gravadas pela câmera indiscreta de um detetive particular que já estava há muito tempo acompanhando a sua esposa, pari passu.
Apesar da tragédia, Cornélio e Dadinha continuam casados. E bem casados. É claro que Dadinha continua dando atenção ao açougueiro, ao padeiro, ao entregador de pizza etc...
Anão de circo, claro, nem pensar.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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