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A crônica do Corino - Big Brega Brasil

Corino Rodrigues de Alvarenga - 16 de janeiro de 2007 - 07:02

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Big Brega Brasil

Há muito tempo eu venho dizendo – e escrevendo – sobre a má qualidade da TV comercial brasileira. Por estar atuando há 22 anos na área de comunicação, sinto-me obrigado a assistir a todo e qualquer tipo de programa de TV, de rádio, sites, jornais, revistas e outros veículos da nossa querida mídia, para poder analisar, senão de cátedra, ao menos com algum conhecimento e precisão.
A Globo, como líder de audiência, lidera também o ranking brasileiro da mediocridade. E faz sua a regra que norteia a TV comercial no Brasil: programa de qualidade, com conteúdo cultural e com relevância para o desenvolvimento social do brasileiro, é utilizado de madrugada, que é para esquentar as válvulas de seu circuito de transmissão. Esquentadas as válvulas, tome porcaria!
Quer programa de boa qualidade na TV? Ligue na Cultura, na TV Escola, na TV Senado, na TV Futura. Na Globo, só de madrugada e, assim mesmo, no Telecurso 2000, no Globo Rural, no Globo Ciência, no Globo Ecologia e pára por aí. Nos demais canais comerciais, como SBT, Record, Band ou RedeTV, a mediocridade é ainda maior.
O SBT, então, não passa de uma mistura bem embaralhada de circo-cassino eletrônico de péssima qualidade. É Tele Sena de hora em hora e os tais roletrandos da vida que tiram a paciência de qualquer pessoa que ousa pensar com o cérebro.
Pode-se salvar aí alguns programas da Cultura e da Rede Vida também. O resto, amigo, é de lenhar, como se diz aqui na Bahia.
Agora, no que diz respeito a esse lamaçal em que o telespectador chafurda ao ligar a TV, tem um programa que é hour concur: o Big Brother Brasil, que costumo chamar de Big Brega Brazil, com “Z” no Brasil, pois se é para americanizar, vamos até o fim.
Dizia-se no filme que Javé é lugar bom para criar lobisomem. O Big Brega Brazil é bom para criar lobisomens com direito a quinze minutos de fama durante três meses de cárcere dentro de uma casa de luxo, bonitinha e cheia de comida e dentro de um País sem luxo, faminto e miserável. Quem se humilha lá dentro da casa para tentar um milhão de reais está no mesmo nível de milhões de brasileiros que não têm perspectiva, que não tem cultura, que não tem pão na mesa, que não tem nem como sonhar trabalho, emprego e salários dignos.
É esse tipo de programa, tido como reality show, que dá audiência há sete anos à Globo porque temos um povo que se dramatiza diante de seu próprio Big Brega Brazil, sedento por mediocridade, que sonha com o lucro fácil, que sonha em se dar bem na vida sem pegar no pesado, que acha bonito herdar heranças e prêmios estapafúrdios, risíveis e burlescos.
O paredão do brasileiro neste Big Brega Brazil é a falta de segurança, de emprego, de educação, de saúde. E o brasileiro vive diariamente o seu paredão. É um paredão social gigantesco em que 5% são donos de mais de 50% do Pib brasileiro, em que as autoridades não tomam nenhuma providência para diminuir essas disparidades sócio-econômicas, mas criam, da noite para o dia, bolsas-esmolas, que, em vez de oferecer distribuição de renda justa e humana, só servem para aumentar, ainda mais, o abismo que separa ricos e pobres.
Quer crescer? Desligue a TV. Quer crescer? Pegue um livro para ler. Quer crescer? Vá ao teatro para se enriquecer.
Mas não se desespere: mesmo do fundo do abismo você pode vislumbrar o sol que brilha lá no alto do céu. Nem tudo está perdido. Acredite e repita: nem tudo está perdido.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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