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A crônica do Corino - A culpa é do instinto

Corino Rodrigues de Alvarenga - 31 de agosto de 2006 - 08:39

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A culpa é do instinto

Nasci, graças a Deus, em Cassilândia. E, pelo que me conheço, irei viver os meus últimos dias em Cassilândia. Pode demorar o tempo que demorar, mas tenho convicção de que isso irá acontecer. Não se trata apenas de uma vontade. É cristalino e, sobretudo, instintivo. Faz parte do instinto.
Você conhece a história do instinto? Então vou te contar agora. É rápida e boa demais da conta. Em tempo: não sou o autor dela. Ouvi por aí e estou vendendo o peixe de acordo com as condições que comprei. É pegar ou largar. Pois bem. Lá vai ela.
Houve uma grande enchente na selva. Ficaram à mercê das águas dois animais: o leão e o escorpião. À proporção que o tempo ia passando, a água ia subindo, ia subindo, ia subindo...
O escorpião, como é um animal de pequeno porte e vendo que a água estava subindo, foi para a ponta de um pau e ficou lá em cima. Um leão estava nadando por ali. Mas, como nunca teve nenhuma intimidade com o rei da selva, o escorpião preferiu ficar ali, calado, na ponta do pau, esperando a água descer.
Mas, ao contrário do que esperava o escorpião, a água só subia. Quando ele percebeu que ia morrer afogado, apelou para o leão que estava ali bem perto. O escorpião fez voz de piedade:
- Leão, por favor, me atravesse até aquele morro senão vou morrer afogado aqui!
O leão, conhecendo a fama do escorpião, foi direto:
- Nunca! Você é um animal venenoso e irá me picar.
- Que isso, Leão? Imagina se eu vou fazer uma coisa dessa com você! Estou te pedindo um favor e você pode salvar a minha vida. Eu só tenho mais é que ficar agradecido, amigo.
Como o escorpião foi falando palavras amáveis, o leão foi persuadido a ajudá-lo. “Não custa nada mesmo. E esse pobre coitado vai acabar morrendo afogado aqui se eu não o ajudar. E mais: eu já estou em dívida com o homem lá de cima mesmo... Quem sabe ele não faz esse desconto e alivie um pouco os meus pecados?”, pensou.
- Tudo bem, tudo bem, escorpião. Suba aqui no meu pescoço. E, pelo amor de Deus, não vá me picar. O seu veneno é mortal, eu bem sei.
- Imagina, amigo Leão! Eu picar você? Nunca!
O escorpião subiu no pescoço do leão e ficou ali, quietinho, segurando na juba do seu salvador. O leão foi atravessando o grande rio, nadou uns trezentos metros e foi se aproximando do morro, onde deixaria o escorpião. Assim que o leão pisou na terra firme, o escorpião não resistiu e picou o leão, deixando o sangue descer, quente, muito quente.
O leão, já sem forças, disse as últimas palavras:
- Eu sabia, escorpião... Eu fui idiota ao acreditar em você. Você é um animal sem coração. É maldoso por natureza e acabou de me matar. Como você é mau e traiçoeiro!
Aí o escorpião respondeu, assim que pulou na terra firme:
- Não é maldade, não. É o instinto, leão. É o instinto. Eu também sou uma vítima. Sou vítima do instinto. Foi sem querer, querendo...
Então é isso. O instinto é tudo.
Por isso, minha Cassilândia, ao ter te abandonado e ter te picado com o meu veneno de escorpião, eu só tenho essa explicação. É esse tal instinto. Não é culpa minha. A culpa é dele: o instinto.

Corino Rodrigues de Alvarenga, reside atualmente na Bahia
Contato com o colunista:
[email protected]

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