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A crônica do Corino - A atropelada

Corino Rodrigues de Alvarenga - 03 de março de 2007 - 08:56

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A atropelada


Diz a máxima da sabedoria popular que, no Brasil, a coisa funciona mais ou menos assim: o rico mata o pobre e a culpa é do cadáver. Saiu uma notícia na Imprensa, ontem, dia 3 de março, que me chamou muito a atenção. Leia e veja se eu não tenho razão.

“A dona de casa Nilséia Rodrigues da Silva, moradora de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), terá de pagar mais de R$ 2 mil ao condutor de uma moto que a atropelou há mais de dois anos. A Justiça entendeu que ela foi imprudente, já que o pedestre tem a responsabilidade de estar atento e usar a faixa de segurança.
\"Eu não estava atravessando desatenta, estava chegando à calçada quando ele me pegou\', disse a dona de casa ao jornal Zero Hora. Mesmo assim, o condutor da moto, Robson Eduardo Fernandes, e o dono do veículo, Elton Natalino Fernandes, a processaram por ter causado o atropelamento.
Depois do acidente, Nilséia, que fazia limpeza em casas, alega que não pôde mais trabalhar. Ela sofreu traumatismo craniano e um estiramento na perna. Para pagar os R$ 2 mil ela terá de vender seus pertences. A proposta que ela fez de pagar a dívida em prestações de R$ 30 não foi aceita pela Justiça.” (Redação Terra)

Eu fico imaginando como se pode condenar uma diarista, que trabalha de casa em casa, a pagar uma indenização de R$ 2 mil à “vítima” que a atropelou? Mas no Brasil infelizmente o sistema funciona assim.
O Estado brasileiro, que não oferece ensino gratuito e de boa qualidade ao cidadão, que se omite diante das demandas sociais urgentes como saúde e que, apesar de tudo, cobra exorbitantes tributos, é o mesmo que, ao julgar, comete aberrações que chegam a ser risíveis.
A atropelada Nilséia é apenas um caso e não pode ser analisado isoladamente. O que o Estado brasileiro faz diariamente com os aposentados e pensionistas, com as crianças abandonadas nos lixões da vida, no trabalho escravo no campo e nos guetos das cidades tem que ser fruto de muita análise, sobretudo por parte daqueles que tomam as decisões em Brasília.
As injustiças que se cometem neste País precisam sair das estatísticas frias para entrar na discussão central: por que o Estado brasileiro faz isso com os seus cidadãos? Por que o Congresso Nacional não elabora leis mais rígidas e justas? Por que o presidente não inicia uma ampla e verdadeira campanha de moralização de cima para baixo, a partir dos gabinetes e corredores palacianos, até chegar às ruas, vielas e praças de todas as cidades, de todos os povoados e distritos deste gigante adormecido?
Adormecido. É isso.
Acredito piamente que o Brasil está precisando, sim, é de um grande despertador.
Mas não pode ser qualquer despertador. Tem que ser daquele antigo, de metal, resistente, que bate o metal no metal religiosamente, que não atrasa nem adianta.
Só há um detalhe: não basta também que só seja bom na qualidade; tem que ser bom no tamanho, tem que ser gigantesco, imponente.
De preferência que seja do tamanho do País, do Oiapoque ao Chuí.
Do contrário, amigo, o Brasil não acordará nunca. Nunquinha mesmo.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
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