A evolução dos estudos

Em 1990, pesquisadores japoneses demonstraram em animais de experimentação que a cafeína inibe o desenvolvimento de câncer do fígado, provocado por agentes químicos.Em 2005, dois estudos referendados pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, relataram que pacientes com lesão hepática de diferentes etiologias apresentavam menor risco de inflamação do fígado, quando consumiam café regularmente.

Em 2010, a revista Hepatology publicou trabalho demonstrando que duas ou mais xícaras de café por dia haviam sido relacionadas com menor índice de fibrose em pacientes com hepatite C.

Finalmente, em dezembro deste mesmo ano, Kalthorff e colaboradores conseguiram demonstrar em animais de experimentação como funciona o mecanismo de proteção do fígado pelo café: a bebida estimula o sistema enzimático UDPG (uribinodifosfoglicuronosiltransferase), que está localizado no microssoma das células hepáticas. Estimulada, esta enzima transfere para a toxina o glicuronato — principal responsável pela detoxicação — facilitando sua excreção pela bile. O efeito hepatoprotetor do café inicia-se rapidamente após dez dias de consumo diário, assim como desaparece dez dias após a sua retirada.

Por sua importante contribuição à ciência, a revelação mereceu editorial em conceituada revista médica (Gastroenterology 2010), com o título “In the search of the magic bullet...” (Em busca de um remédio milagroso...”)

No reverso da história, há muitos anos a bebida vem sendo desaconselhada pelos médicos, mesmo sem evidências científicas de que pudesse provocar doenças no estômago ou em outros órgãos. Com a revelação de Kalthorff, desde que a sua ingestão não provoque qualquer tipo de desconforto, o cafezinho está liberado, pois além do prazer da degustação, agora sabemos que ele está também protegendo o fígado de quem o consome.

E o coração, como é que fica?

Foi demonstrado que o café protege também o coração. Estudo prospectivo, coordenado por pesquisadores de Harvard e de Madrid, envolvendo 41.736 homens (profissionais da saúde) e 86.214 mulheres (enfermeiras), acompanhados durante dezoito e vinte quatro anos respectivamente, mostrou que o consumo regular de café diminuiu a mortalidade por doença cardiovascular (Ann Intern Med 2008; 148: 904).