Geral
A Aids se espalha pelo país
Doença que parecia restrita a pessoas de alta escolaridade hoje afeta principalmente quem pouco freqüentou a escola.
Enquanto na década de 1980 a Aids parecia restrita a pessoas de alta escolaridade, hoje a doença atinge principalmente quem pouco freqüentou a escola. É o que comprova pesquisa realizada por Maria Goretti Pereira Fonseca, da Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, do Ministério da Saúde. O estudo mostra que, ao longo dos anos 1990, a Aids se espalhou entre pessoas com oito anos ou menos de estudo, sobretudo do sexo feminino, residentes em pequenos municípios, que se contaminaram com o vírus HIV por meio de relações heterossexuais ou pelo uso de drogas injetáveis.
Ao analisar dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores verificaram que, de 1989 a 1997, foram registrados cerca de 107 mil casos de Aids entre pessoas de 20 a 69 anos diagnosticadas com a doença pelo menos uma semana antes de falecer. O número de casos registrados aumentou expressivamente entre 1989 e 1992, com uma aparente estabilização em torno de 17 mil casos novos por ano após 1995, afirmam os pesquisadores em artigo publicado na Revista de Saúde Pública em dezembro de 2002.
A equipe de Fonseca constatou que, em 1989, havia seis homens com Aids para cada mulher doente. Em 1997, a proporção de casos femininos tinha aumentado: havia apenas dois homens com Aids para cada mulher com a doença. Além disso, em 1989, dos homens doentes cuja escolaridade era conhecida, metade tinha mais de oito anos de estudo. Mas o perfil dos pacientes do sexo masculino era outro em 1997, quase dez anos depois: 70% deles apresentavam oito anos ou menos de estudo. No caso das mulheres, 71% tinham baixa escolaridade já no primeiro ano analisado.
Quanto à distribuição dos casos de Aids pelo território brasileiro, a equipe de Fonseca comprovou que a epidemia da doença se encontra em estágio mais avançado na região sudeste, onde já em 1989 havia grande proporção de pacientes com baixa escolaridade. Nas outras regiões do país, onde a epidemia é mais recente, a proporção de doentes de baixa escolaridade só começou a aumentar na década de 1990. A evolução da epidemia de Aids no Brasil afeta seletivamente uma população menos favorecida do ponto de vista socioeconômico com implicações importantes para as ações de prevenção e assistência, dizem no artigo os pesquisadores, ressaltando a importância de se investir em educação para que as pessoas mais pobres aprendam a se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis.
Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)