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Geral

25% dos adolescentes sofre com dor crônica associada a uma doença da mente

Saúde Plena - 24 de outubro de 2015 - 18:00

Todos os adultos venceram, necessariamente, a adolescência. Entendê-la, contudo, é para poucos. Não importa a época, os sintomas são os mesmos. E vultosos. De Romeu e Julieta, de Shakespeare (1595), a Crepúsculo, de Stephenie Meyer (2005), rebeldia contra tradições familiares, espontânea irritabilidade, paixões melodramáticas à primeira vista e decisões imprudentes assinam a puberdade. Mas é preciso identificar o limite entre o que “é da idade” e o que sinaliza transtornos mentais, alertam especialistas.

O cuidado vale, inclusive, porque os problemas psiquiátricos influenciam a saúde física dos adolescentes. Um estudo publicado no periódico Journal of Pain mostrou que um em cada quatro jovens sofre com dor crônica combinada com uma doença da mente. O desconforto nas costas, na garganta ou na cabeça sucede transtornos como depressão, ansiedade e distúrbios de comportamento. As conclusões fazem parte de um estudo encabeçado pela Universidade da Basileia, na Suíça, baseado na análise de dados de 6,5 mil adolescentes norte-americanos com 13 a 18 anos.

Os cientistas notaram que transtornos afetivos, como a depressão, ocorriam antes de crises de dor de cabeça. Também encontraram correlações entre transtornos de ansiedade e dores no pescoço e nas costas. Distúrbios de comportamento — o transtorno do deficit de atenção com hiperatividade (TDAH), por exemplo — indicaram um risco aumentado para dores de cabeça agudas. Um outro trabalho da mesma equipe publicado em abril no Psychosomatic Medicine reforçou a ligação entre doenças mentais e físicas, especialmente as do aparelho digestivo, convulsões, artrite e problemas cardiovasculares.

Turbilhão de mudanças
As pesquisas integram um universo de mais de 500 mil artigos publicados na última década sobre a adolescência. A mente dos jovens é uma das áreas que mais intrigam os cientistas. Por isso, será o tema principal do 37º Congresso Brasileiro de Pediatria, que acontecerá, na próxima semana, no Rio de Janeiro. Os indícios são de que é um assunto que merece mesmo ser estudado. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo da Silva Vaz, de 20% a 25% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de transtorno de comportamento ou doença mental.

Por mais de uma década, o organismo jovem sofre alterações biológicas, emocionais, cognitivas e sociais que o preparam para enfrentar a vida adulta. Normalmente, tudo corre bem. Mas transtornos mentais podem dar os primeiros sinais justamente nessa etapa da vida. Eduardo Vaz aponta um elemento que torna a situação ainda mais delicada: os adolescentes são especialmente prejudicados pelas drogas porque o cérebro deles está em formação. Os neurônios não foram completamente encapados pela mielina, substância responsável pela comunicação eficiente entre as células nervosas. “Isso acontece principalmente no córtex pré-frontal, uma região em que são processadas a maioria das tomadas de decisões, como a escolha de uma carreira. O cérebro e o crescimento não andam juntos”, explica.

O órgão em formação, porém, os protege da esquizofrenia — típica de adultos, porque esses possuem uma constituição neurológica e de personalidade. “Diferentes transtornos se manifestam em idades distintas e dependem, inclusive, do gênero. Por ser muito variável, cada caso deve ser analisado isoladamente”, diferencia. A respeito das diferenciações de gênero, Eduardo Vaz conta que depressão e transtornos da alimentação, como anorexia e bulimia, são mais preponderantes em meninas. Até a puberdade, a proporção de depressão é mais ou menos igual entre os sexos. A questão é que elas enfrentam mais desafios biológicos e psicossociais antes. Estudos indicam que as meninas relatam mais “eventos dramáticos” na vida pessoal.

Pais presentes
Independentemente do gênero, os pais devem buscar os consultórios quando as oscilações de humor e o comportamento gerarem consequências desconfortáveis para os filhos adolescentes, alertam os especialistas. “Um menino tímido, retraído, não precisa de manejo médico se não sofrer socialmente por isso. Mas, quando ele deixa de sair de casa, deve-se procurar ajuda”, exemplifica o neurologista Christian Muller, coordenador do Departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal.

Tanto Eduardo Vaz quanto Muller destacam que a família é fundamental no tratamento e na prevenção desses transtornos. “O mais importante para lidar com isso é resgatar a família e a presença dos pais. Eles devem ouvir mais seus adolescentes, perguntar e ajudar, não podem se esconder atrás do trabalho. Se não for para cuidar dos filhos, que não os tenham”, defende Muller, também professor do curso de medicina do Centro Universitário de Brasília (UniCeub).

Vaz acrescenta que há estudos constatando que crianças e adolescentes que fazem refeições em família sofrem menos com o bullying. “É uma questão de estrutura. Quando algo errado acontece, os adolescentes têm, durante as refeições, a oportunidade de trocar uma ideia com os pais e acabam se sentindo revigorados para lidar com a situação, deixando de se importar com as agressões. O agressor precisa de uma vítima. Se o jovem tem estrutura para resistir, não estará suscetível às agressões e o bullying simplesmente ‘não vai pegar’”, completa o pediatra.

Novos marcos
Em séculos anteriores, os adolescentes não eram tratados como “crianças em fase de crescimento”. Em 1800, cresceu entre cientistas a compreensão do que é a puberdade. Agora, acreditam que ela começa seis anos antes do que em 1850: por volta dos 11 aos 12 anos para as meninas e dos 12 aos 13 para os meninos. É possível que a maturação sexual esteja sendo iniciada mais cedo devido a uma melhora na nutrição pré-natal e na infância. Meninas de famílias de situação econômica confortável costumam menstruar antes das mais pobres, e as diferenças são ainda maiores em países em que há desnutrição. O consenso atual é de que a adolescência é dividida em três fases: a inicial (dos 10 aos 13 anos), a média (dos 14 aos 17 anos) e a tardia (dos 18 aos 21 anos).

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