Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Quinta, 25 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

"Orelhão humano" vira profissão e tem até sindicato

Uol - 04 de julho de 2015 - 15:05

"Minutero" conversa com cliente no centro de Bogotá, capital da Colômbia. Nessa cidade, como em outras da Colômbia, desempregados trabalham como "orelhões humanos", vendendo ligações de celulares por minuto.
"Minutero" conversa com cliente no centro de Bogotá, capital da Colômbia. Nessa cidade, como em outras da Colômbia, desempregados trabalham como "orelhões humanos", vendendo ligações de celulares por minuto.

Na Colômbia é assim: o celular próprio só recebe ligação. Para fazer chamadas locais ou de longa distância, é mais barato usar os serviços dos "minuteros", homens e mulheres que ganham a vida em praças públicas vendendo minutos de seus vários celulares, que levam a tiracolo.

Com o preço do minuto da ligação estampado nos coletes coloridos e nas placas penduradas no pescoço, esses "orelhões humanos" surgiram graças à concorrência entre operadoras e aos descontos dados para telefones registrados em nome de pessoas jurídicas. Para empreender, muito desempregado abriu empresa e comprou aparelhos e chips. Logo, colocou familiares e funcionários de plantão todas as horas do dia nas ruas movimentadas de todo país.

Para evitar os roubos, muitos acorrentam os celulares a um guarda-sol ou a própria roupa. As coleiras metálicas permitem que o usuário se distancie para ter privacidade na sua comunicação, sem levar o aparelho. "Já roubaram celular meu. Imagina dez pessoas cada uma indo para um lado, e eu ainda tendo de cobrar e dar troco. Às vezes, escapa um", conta Elaine Fernandez, "minutera" que herdou da mãe o ponto no centro de Leticia, cidade vizinha ao Brasil.

A função informal cresceu tanto que formou até sindicatos em cada cidade para defender a atividade. Afinal, o governo quis acabar com o nicho proibindo-o na nova lei de telecomunicações. Um dos argumentos mais fortes para a repressão era que os "minuteros" eram usados em casos de sequestro e extorsão por criminosos que não queriam deixar rastro.

Os celulares eram apreendidos, e os trabalhadores eram detidos e processados. Mas a pressão dos "orelhões humanos" foi tal que surgiu o "plano minutero", com tarifas menores que os pessoais e os corporativos, disponibilizados pelas operadoras.

Muitos desses trabalhadores são refugiados de áreas de conflito entre a guerrilha, o Exército, os grupos paramilitares e os cartéis do narcotráfico. Eles encontraram nos celulares uma fonte de renda depois do abandono de suas zonas de origem.

Outros fazem o bico atrás de sonhos pessoais. No centro de Leticia, John Uriza consegue lucrar nos dias movimentados por volta de R$ 90 com seus sete celulares numerados com tinta branca. Quando cai aquela tempestade amazônica, ele se abriga embaixo de um toldo de loja. Ele trabalha de segunda a sábado, do meio-dia até às 20h. "Quero estudar veterinária e preciso economizar dinheiro", conta sobre seus planos.

Nos "homem-celular", o usuário paga menos que a metade pelas chamadas. Por seu lado, o "minutero" lucra mais porque quanto mais chamadas por mês mais baratas ficam. A Colômbia tem 47 milhões de habitantes e um número um pouco maior de celulares. Muitos dos clientes dos "orelhões humanos" têm dois ou até três aparelhos no bolso, mas preferem o serviço mais barato. Fazer ligação é só para quem quer esbanjar.

A pergunta é se os "orelhões humanos" vão sobreviver à popularização dos smartphones e seus aplicativos de mensagem e voz, como o Whatsapp, ou se os desempregados colombianos terão de achar outro nicho para aplacar a pobreza.

SIGA-NOS NO Google News