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Black Friday, natal e consumo: os tempos mudaram!

Por Paulo Sérgio de Moraes Sarmento - 03 de dezembro de 2013 - 15:22

Há tempos atrás quem poderia imaginar uma liquidação em plena época de Natal? O período magno das vendas para o varejo que até então representava dois terços da venda do ano e com margens gordas? Um diretor de marketing que fizesse uma proposta dessas seria demitido por justa causa. Uma agência de propaganda perderia imediatamente a conta por tamanho sacrilégio. Nem pensar!

Mesmo quando não existia o décimo terceiro salário, o Natal sempre foi o melhor período de vendas. Depois que foi instituído por lei em 1962, pelo então presidente João Goulart, portanto há mais de cinquenta anos, essa gratificação anual paga por todas as empresas aos seus funcionários fez com que indústria e o varejo passassem a contar com um bolo extra de dinheiro cem por cento voltados ao consumo.

Esse era o propósito, mesmo que por interesses políticos. Garantiu por um bom tempo maior robustez à consagrada época de ouro onde pessoas ficavam felizes em gastar sem mexer em seu orçamento e as empresas igualmente felizes em vender encerrando um ano com balanços melhores. A força motriz da roda da fortuna!

Os tempos mudaram. Ainda representando um importante volume de vendas no ano, o Natal perdeu o seu brilho de outrora. O décimo terceiro como dinheiro destinado para compras agora é recebido em conta e destinado para tapar buracos do orçamento familiar. Com dinheiro curto, dívidas, inflação maior que a declarada nas estatísticas e economia com pífio crescimento, o consumidor se vê tendo que usar parte, ou todo do seu décimo terceiro para pagar empréstimos, parcelas atrasadas e outras obrigações.

Os bancos oferecem até a sua antecipação como empréstimo. A sua finalidade acabou sendo desviada. Para os aposentados e pensionistas do INSS, metade do décimo terceiro é creditado junto com os proventos de setembro, muito antes do Natal e por quê? Porque outubro a cada dois anos é mês de eleições e serve para aliviar as tensões do bolso furado.

Sinais da economia igualmente furada. Ou seja, a capacidade de gastança em presentes e ceia farta foi esvaziada exatamente na contra mão da tradição da festa natalina. Copiamos o Black Friday e o copiamos mal.

Nos EUA, aonde foi criado, é uma liquidação que está se tornou esperada, com forte e verdadeira redução nos preços para eliminar estoques parados e dar lugar às novas mercadorias e lançamentos. Black is beautiful! Liquidações no varejo, diga-se de passagem, sempre tiveram essa finalidade em qualquer época do ano, historicamente nas trocas das estações climáticas.

Além do abuso de alguns comerciantes subirem os preços para falsamente mostrarem descontos - o famoso truque da metade do dobro - o que vimos foi uma disputa acirrada e desesperada de todo tipo de comércio e serviços pelos restos mortais do décimo terceiro. Algumas redes de varejo espicharam a sexta feira até domingo.Todos procuraram se defender como puderam.

O consumidor também. A verdade é que todos estamos no mesmo barco, como no Titanic que só havia botes salva vidas para a primeira classe. O célebre transatlântico que afundou tragicamente em 1912 teve o seu casco rasgado por um iceberg. No navio Brasil, sabemos que um iceberg nos espera para criar danos irrecuperáveis em nosso casco, em nossas estruturas democráticas, caso não mudemos o seu rumo político que, por consequência, mudará o modelo econômico e social.

Só não acredita no Iceberg quem não quer enxergar. Só pegará de surpresa os que não estiverem preparados e souberem desenvolver a sua rota de crescimento com planejamento e estratégias para os cenários complicados que virão pela frente a começar de 2014. Quem sabe veremos ainda um Black Christmas!

Paulo Sérgio de Moraes Sarmento é economista e sócio da VSW Soluções Empresariais.

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