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Artigo: Sexualidade do portador de necessidades especiais

Zenita Terezinha Goebel* - 03 de abril de 2013 - 19:17

Chega ao meu consultório, um adolescente de 16 anos com paralisia cerebral e uma leve incapacidade de aprendizado.

É trazido pela mãe para trabalhar muitas outras questões vistas pela família, mas o foco principal do paciente era a sexualidade. Já havia passado por várias situações de tratamentos, físico, mental, comportamental, cuidados especiais de toda natureza. Em todas as situações só ouvia, ouvia, ouvia... Nunca ninguém perguntava o que ele realmente queria, desejava ou sentia.

Hoje ainda é comum se perceber que os portadores de necessidades especiais quando crescem, continuam sendo tratados como crianças ou como doentes.

O desenvolvimento sexual coloca certos problemas para os pais de crianças normais. Muitos preferem que a escola forneça a educação sexual. Mas infelizmente, pouquíssimas escolas ou universidades têm fornecido cursos adequados sobre sexualidade das pessoas portadoras de necessidades especiais.

Na verdade, com freqüência, os pais e professores se juntam, discutem sobre várias problemáticas e tendem a querer esquecer que crianças, adolescentes e adultos portadores de necessidades especiais, também têm sentimentos e desejos sexuais.

Coloco aqui um dos relatos deste jovem (cadeirante).

“Eu queria sair sozinho com minha cadeira de rodas, por mim mesmo”. Ir às lojas ao parque. Eu queria escolher quando sair, quando EU tivesse vontade, a minha vontade, ao invés de esperar que alguém tivesse livre para me levar aonde ela quisesse!

Mesmo sentindo medo de sair conzinho, eu queria me arriscar! Eu tinha medo de cair da minha cadeira ou que algum carro me atropelasse. Tinha medo também que as pessoas não me vissem atrás do balcão da loja porque eu estava baixo demais, ou que elas não fossem entender o que eu queria dizer por causa da minha dificuldade da fala. Mas um dia eu me arrisquei e consegui. Sai, entrei no elevador, apertei o botão, desci ate a rua.

Atravessei a rua e fui até o Shopping. Foi a minha maior aventura. Esqueci até que tinha medo. Como foi bom sair quando senti vontade e parar onde desejei parar. Em um determinado momento, parei no meio do Shopping e fiquei observando as pessoas caminharem de um lado para outro. Muitas alegres, outras nem tanto. Muitas garotas lindas e perfeitas que circulavam. Elas nem me olhavam, mas eu as via, admirava-as e até fantasiei coisas boas, mesmo sabendo que jamais as veria novamente. Senti-me excitado, mas administrei isto bem. Voltei para casa muito feliz. Esta liberdade, mesmo que por um dia, me fez crescer, me deu prazer, me senti gente. “Pretendo sair outras vezes”.

A sexualidade na teoria freudiana, não se restringe ao corpo biológico, mas se articula num outro registro econômico que passa “necessariamente pelo campo da representação e pela busca do prazer”.

Como pensar este jovem neste contexto, que vivendo um momento já conturbado da adolescência onde busca se subjetivar, no entanto encontra-se capturado por um mundo de fantasias, mundo de imagens onde ele experimenta como um espectador de um público e que para ele as pessoas, principalmente as meninas são lindas e perfeitas?

Como pensar a libido deste menino parado e, diante de si um público aonde sua fantasias vão sendo desenhadas de acordo com seus desejos e, ele vai inventando situações para dar vazão aos desejos e sua frustrações?

As necessidades o fazem lançar um novo desafio em sua vida. Ele deseja sair outras vezes. Algo nele mudou.

Na psicoterapia procuramos trabalhar através da escuta, do acolhimento, exercícios de auto estima, relaxamento e principalmente a respiração, principal ferramenta na qualidade e purificação da qualidade de vida e alivio do sofrimento.

Zenita Terezinha Goebel

CRP-05/5197

Psicóloga clínica e Hipnoterapeuta - formação em psicanálise, terapia de casais, Terapia Cognitivo Comportamental, Curso em Psicoterapia do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade TODA/H.

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